quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Lembranças (por Pedro)


O dia não me recordo muito bem qual era, mas eu estava ali. No mesmo lugar que estivera há oito anos. Lembro de ter visto meu tio em pé, vestido em branco, na frente de uma ambulância. Os carros saindo daquela balsa para outros entrarem, o olhar preocupado e carinhoso da nossa professora parecia buscar problemas que não queriam encontrar... não resisti e sai em disparada... Ele era grande, muito grande. Principalmente pra mim, que nos meus 13 anos, era o menor do time. Pulei em cima dele e fui carregado com uma facilidade incompreensível. Lembro do cheiro dele... até hoje ele é bem vivo... e não só o cheiro, e sim também, a voz grave, a textura da mão, que com uma única pegada tomava conta da minha cabeça toda. Lembro também que eu passava por problemas naquela época, algo a ver com alguma desilusão amorosa, nada muito grave, mas na época era. Tanto que quis chorar no colo dele, mas não consegui... ele sempre me fazia rir.
Hoje, não muito raro, acontece d’eu me pegar pensando nele, naquela mão grande que parecia me proteger, naquela voz grave e suave que sempre me entendia e me fazia prometer mudanças.
Eu não era, dos meninos da época, o mais difícil, mas também não era fácil. Tinha alguns problemas com notas e outros poucos com comportamento. Meu tio sempre ficava sabendo desses benditos problemas, e tinha conversas comigo, não tão longas como as conversas da mamãe e nem tão curtas como eu gostaria que fossem, mas ele sempre terminava dizendo: “Promete pro titio que vai mudar?”.
Lembrar disso, hoje em dia, por vezes, me machuca... não sei se mudei, não sei se me tornei o homem que ele gostaria que eu fosse.