terça-feira, fevereiro 28, 2006

O Velho (Chico Buarque)


O velho sem conselhos

De joelhos
De partida
Carrega com certeza

Todo o peso

Da sua vida
Então eu lhe pergunto pelo amor

A vida inteira, diz que se guardou
Do carnaval, da brincadeira

Que ele não brincou

Me diga agora
O que é que eu digo ao povo

O que é que tem de novo

Pra deixar
Nada
Só a caminhada
Longa, pra nenhum lugar

O velho de partida
Deixa a vida
Sem saudades
Sem dívidas, sem saldo

Sem rival

Ou amizade
Então eu lhe pergunto pelo amor

Ele me diz que sempre se escondeu

Não se comprometeu

Nem nunca se entregou

E diga agora

O que é que eu digo ao povo

O que é que tem de novo

Pra deixar
Nada
E eu vejo a triste estrada
Onde um dia eu vou parar

O velho vai-se agora

Vai-se embora

Sem bagagem

Não se sabe pra que veio

Foi passeio

Foi Passagem

Então eu lhe pergunto pelo amor

Ele me é franco

Mostra um verso manco

De um caderno em branco

Que já se fechou

Me diga agora

O que é que eu digo ao povo

O que é que tem de novo

Pra deixar

Não

Foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar


sábado, fevereiro 25, 2006

A ÁRVORE DE NATAL (por Dico Neto... amigo, músico, escritor e professor)


Sonhava com uma igreja muito iluminada, estava sentado ao lado de minha avó e as pessoas ao redor entoavam louvores à Deus... acordei. Percebi que estava sendo influenciado pela musiquinha que vinha de uma caixinha que meu pai havia colocado ao lado da árvore de natal, meu sono tinha sido interrompido pela sua voz, ele gostava muito das velhas canções natalinas e provavelmente ficaria lembrando as letras até acabar a corda, ou até minha mãe chamar para o almoço.

Levantei com passo cambaleante e fui até o banheiro, fiz uma higiene pessoal displicente, vesti minha roupa e saí, a idéia era caminhar a pé até a praça que ficava distante algumas quadras, queria ver se o HQ que eu havia encomendado tinha chegado. Bem, antes de continuar a contar esta estória que tanto marcou minha juventude, permitam que eu me apresente, me chamo Orlando, sou advogado, mas naquela época trabalhava como digitador num escritório, detestava aquele emprego, no começo era bacana, foi meu primeiro trabalho, me sentia poderoso saindo de casa a hora que eu bem entendesse e comprando coisas sem a colaboração do meu pai, só que cansei, invejava alguns amigos que dependiam muito mais da criatividade para trabalhar do que eu. Tentei cursar jornalismo, mas detestei a faculdade. Os professores eram capazes de estragar com aquela retórica toda a beleza que eu via na minha visão leiga e ingênua, não fiquei muito tempo.

Não tinha trabalho naquele dia, era 24 de dezembro, como o chefão estava fazendo uma daquelas viagens intermináveis, provavelmente para não esclarecer porque o 13º salário ainda não estava nas nossas contas, resolvemos cancelar as atividades na véspera. Pois bem, eu subia uma rua íngreme e pensava que devia ser mais impulsivo e menos covarde, se na teoria universitária eu era um fracasso, deveria pelo menos ser um pouco mais pragmático, sei lá montar uma banda ou fazer teatro... não, corria o risco de ficar velho, não conseguir ganhar dinheiro e não ter mais tempo pra começar de novo. Eu gosto muito de dinheiro para ser tão corajoso, pronto começou a covardia de novo! Foi quando eu parei num sinal fechado, um ônibus parou bem em cima da faixa de pedestres, não, eu não vou fazer nenhum discurso pró-cidadania no trânsito. Pra usar uma linguagem bem apropriada, tô cagando pra isso! O que aconteceu é que sentada à primeira janela do lado oposto ao cobrador estava uma moça belíssima, eu simplesmente parei e fiquei olhando, tinha seus dezoito anos, um olhar perdido, parecia lembrar de coisas agradáveis, de repente ela sorri sozinha, caramba aquilo mexeu comigo, quis subir e sentar ao seu lado, só que enquanto uma batalha entre dois gigantes se travava no meu cérebro (o colosso reprimido do meu impulso versus o leão covarde do meu conformismo), vi a condução avançar, o sinal tinha aberto novamente.

Corri, corri movido por um ímpeto que na hora eu acreditava ser o começo de uma nova era em minha vida, lembrava do macaco de 2001 jogando o osso para o espaço, sabendo que o ônibus daria um pequeno balão no quarteirão, pequei uma ruazinha estreita e consegui apanhá-lo mais à frente. Subi esbaforido, com suor pingando da testa e uma taquicardia que denunciava o meu mais absoluto despreparo físico, tinha bastante gente no corredor, mas em meio a muitos “com licença” e “foi mal” cheguei o mais próximo possível da cadeira da menina. Ela era ainda mais bela do que pensei, usava uma saia comprida, uma blusinha que deixava de fora seu umbigo furado por um piercing e uma jaqueta de mangas curtas por cima. Era verdadeiramente uma obra-prima. Estava encolhida com a cabeça encostada na janela, já não sorria, mas continuava pensativa.

Olhando para fora percebi que chegávamos próximo ao cemitério municipal, desativado a muito tempos, mantinha algumas esculturas e sepulturas que me proporcionava um certo calafrio, quando voltei meus olhos para a garota percebi que ela também olhava para o cemitério e sorria, como ela podia achar beleza no mórbido? Estava tão embriagado por ela que tornei a olhar o velho sepulcro procurando a razão de seu sorriso, continuei sem encontrar. Pouco importava, já tínhamos virado à direita e tomado a rua que levava até o maior centro de compras da cidade, as pessoas começavam a se levantar e tomar a direção da porta, o ônibus costumava ficar quase vazio na porta do comércio. A menina também levantou, meu coração voltou a dar coices dentro do peito, mas dessa vez não pelo cansaço da corrida e sim pelo perfume que senti quando ela passou a poucos centímetros de mim para tomar o corredor.

Ela passou pela roleta e entregou ao cobrador uma nota de cinqüenta reais, o camarada disse alguma coisa a ela que eu não consegui escutar, suponho que “não tem troco” ou alguma coisa gentil desse jeito, e pela primeira vez ouvi sua voz dizendo: “sem problemas, presente de natal”. Que som lindo, grave, levemente rouco. Era tão encantadora e tão bondosa que nem percebi o absurdo, ou no mínimo o inusitado do seu ato. Entreguei um real em cinco moedas de dez centavos e duas de vinte e cinco e corri para não perdê-la de vista.

Quando a alcancei ela já estava no interior do centro de compras, já tinha vindo até ali atrás dela então precisava conhecê-la, saber seu nome ou até mesmo me declarar dizendo que havíamos sido feitos para ter filhos e netos juntos. Ela entrou numa livraria, ficou olhando livros esotéricos. Pronto achei que havia descoberto a razão por ela ter sorrido para o cemitério, foi quando um sujeito se aproximou dela e pôs as mãos nos seus olhos, fiquei indignado, quis fazer um barraco e dizer que eu jamais poderia esperar isso dela, aí lembrei que talvez estivesse pulando algumas fases.

Fui me aproximando dos dois para ver se eu conseguia pescar alguma coisa, me plantei bem ao lado deles e para não dar bandeira apanhei um livro intitulado “O zodíaco na última ceia de Leonardo Da Vinci”, obviamente não o li, mas hoje confesso que trago uma certa curiosidade pra saber que tipo de maconha o autor havia fumado quando o escreveu. De volta à minha espionagem, consegui entender que o cara era gerente da livraria e que os dois seriam velhos amigos, meu coração estava quase em ritmo normal quando ouvi o engomadinho chamá-la de Talita, foi o suficiente para que eu começasse a compor seu nome acrescido do meu sobrenome, ela falava com bastante fluência, sem gaguejar ou atropelar as idéias, minha admiração crescia a cada segundo. Ela se despediu e saiu da loja.

Joguei o livro sobre a estante e quase na porta fui barrado por uma moça com pitó no cabelo que perguntou “está procurando por algo em especial?”, “tô sim! Acabou de sair pela porta”, respondi atropelando-a. Lá fora fiquei desesperado, onde ela teria se metido, comecei a andar com passo acelerado olhava pra tudo quanto é lado, tinha perdido de vista a mulher da minha vida, desci as escadas a toda, nem cheguei a pensar em escada rolante, fui até a praça central do prédio, onde um pinheiro gigantesco havia sido construído, ao redor tinha algodão simulando neve, aquela imagem me irritava, sentindo as forças indo embora, procurei descansar num banquinho de madeira que havia num canto, estiquei as pernas, respirei um pouco e foi então que levantei a cabeça e pude vê-la de novo, estava no último andar do prédio, quatro acima da pracinha, a estrela da árvore de natal ficava a poucos metros dela, pude identificar o que eu acreditei ser seu sorriso.

Outra vez me via correndo, desta vez subindo as escadas, lembrei que era “pra baixo” que todo o santo ajudava, para me confortar imaginei o médico da família que sempre me recomendara correr para perder peso me vendo naquela hora, a um andar de chegar junto dela tomei um choque tremendo, juro por Deus, ainda hoje sempre que eu me sinto pra baixo eu fecho os olhos e vejo esta cena, a minha menina, a avó dos meus netos estava em pé sobre a grade de proteção, nada lhe protegia, nem meus braços que estavam logo abaixo dela, porque? Porque ela arriscava sua vida, como ela conseguia sorrir de um modo que me renovava as esperanças e naquele instante parecia não demonstrar mais esperança alguma. Sem fôlego, não sabia se gritava pra ela, por ela ou se continuava a subir. Ela se atirou, como se quisesse agarrar a árvore de natal, voou no vazio, talvez tivesse calculado mal, um baque seco, gritos e o fim.

Talvez você esteja pensando, agora é o momento para as explicações, vamos entender os “porquês”, nada. Qualquer explicação que eu der agora não irá passar de ficção barata, estórias escritas de madrugada com sono e sem inspiração, humor negro. Daquele dia em diante, minha vida foi transformada, não da maneira que eu imaginei quando a vi na janela daquele ônibus. Passei a prestar mais atenção para o que as pessoas tinham a dizer, mesmo quando não era muito, fiquei mais cético em relação as coisas e passei a baixar os olhos sempre que me sorriam.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

nem to pedindo tanto... (por Pedro)


Ei! Senta aqu pertinho de mim... vambora tentar ser um? Joga fora o “eu” o “tu” o “você”... não te quero, não me queiras, queiramos a gente! Não seja minha nem eu seja seu... sejamos nós!

Vambora tomar sorvete? Mas não dois... não eu... não tu... a gente! Assim mesmo... agarradinho... coladinho... bem clichê.

Já pensou a gente sentado vendo o pôr do sol? Tocando violão... sendo um. Eu a mão e tu a voz... perfeito! Não... a gente a mão e a voz.

Ta vendo? Não é fácil... mas quando conseguirmos.. se ao menos tentarmos... não seremos um... seremos todos!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

sei não... (por Pedro)


pois é... a vida prossegue! não da tempo de amarrar os sapatos... ou tu amarra andando ou perde um pouco de tempo ou segue em frente correndo o risco de tropeçar

domingo, fevereiro 19, 2006

quarto reservado. (por Pedro)


Ei... não tenha medo! Entre... se aconchegue, pegue um copo com água... jogue suas pernas pro alto... sinta-se em sua casa... parece um pouco apertado, mas tem espaço pra ti... e juro que não há necessidade de disputar esse espaço com ninguém, já é seu e ninguém tira.. perca esse medo, venha atrás de ser amada minha amada, venha saber que o amor existe sim, e que é ele, esse fruto maravilhoso, que alimenta milhares de bocas famintas... sinto em ti necessidade de experimentar tal fruto...mas não se preocupe, ele não é proibido... é a todos permitido, por alguns bem aceitos, por outros mal visto, mas a ti é crucial.. por isso mais uma vez repito... entra te aconchega e morda tal fruto

sábado, fevereiro 18, 2006

é sim.. tenho certeza! (por Pedro)

És princesa sim! Menina branda, menina quente...

Se não fosse assim, não seria tão perfeito

Foste presente... um pouco de grego... e muito de Dionísio

Se hoje entendo teu jeito... é por me teres assim...

Menina linda! És linda sim!

Não por rostos e maquiagens, mas sim por jeitos, e tratares

Me sinto muito bem de saber que estais ai...

Me sinto duplo de saber q és minha companheira

O medo faz parte da vida do ser humano

Tenho medo de te perder,

Mas tenha certeza que estarei sempre do teu lado

Tens segredos que nossa própria limitação me esconde

Sinto em ti muito medo... medo prejudicial...

Mas olha pros lados... eu sempre estarei lá... quem sabe até nos dois...

Pra Gabriela Simonetti... meu anjinho lindo